quinta-feira, 3 de maio de 2012

Regra da poupança mudará só para novos depósitos, anunciará governo

O governo anuncia nesta quinta-feira (3), por volta das 18h, mudança no rendimento das cadernetas de poupança. A alteração será feita por medida provisória.
Para os depósitos já feitos até esta quinta-feira, não haverá mudança – o rendimento permanecerá em 0,5% ao mês, mais TR (taxa referencial). Os novos depósitos terão uma remuneração diferente, de 70% da Selic, mais TR. Os rendimentos da caderneta continuarão isentos de pagamento do Imposto de Renda.
A TR (Taxa Referencial) é calculada usando uma média ponderada das taxas negociadas no mercado de CDBs, que são títulos privados dos bancos. Atualmente, a TR mensal está em torno de 0,08%.
Já a Selic, atualmente em 9%, é usada como base de remuneração para titulos da dívida do governo – ou seja, quanto o governo paga para financiar sua dívida.

Queda da Selic

O governo argumenta que a medida é necessária para que o Banco Central continue reduzindo a Selic.
Atualmente, os juros básicos da economia, definidos a cada 45 dias pelo Banco Central, estão em 9% ao ano, pouco acima do piso histórico de 8,75% ao ano, que vigorou entre julho de 2009 e abril de 2010, na primeira etapa da crise financeira internacional.
Um recuo mais forte da taxa de juros, abaixo de patamares mínimos já registrados (8,75% ao ano), poderia comprometer a chamada "rolagem" da dívida pública, que é a emissão de títulos públicos pelo Tesouro Nacional para pagar os papéis que estão vencendo.
Na poupança, está assegurado o rendimento de 6% ao ano mais Taxa Referencial (TR). A modalidade de investimentos também não tem tributação do Imposto de Renda, diferentemente dos fundos de investimentos, nos quais a alíquota do IR varia de 15% a 22,5%, dependendo do tempo de aplicação.

O Brasil caminha para os juros mais baixos da história

O movimento no ciclo econômico vivido pelo Brasil atualmente indica que devemos ter, em breve, os juros mais baixos da história. Para isso, estão juntas “a fome e a vontade de comer”.
A atividade econômica não está como o governo queria, nem como o mercado financeiro esperava. Os dados da produção industrial de março, com queda de 0,5% com relação a fevereiro, surpreenderam. A média das expectativas era para um crescimento de 1,2%.
“Está muito mais fraca do que se esperava. Isso muda muito as expectativas. Muda o ponto de partida e, portanto, o ponto de chegada também. A aceleração esperada para os próximos meses será bem mais branda do que se pensava. Já é seguro afirmar que o PIB pode ficar abaixo de 3% este ano. O que antes era um piso, agora virou um teto para a atividade”, avalia o economista Marcelo Fonseca, da MSafra.
O governo está “caindo na real” de que crescer 4,5%, como quer a presidente Dilma Rousseff, não vai ser possível, nem valendo milagre. A presidente convocou para reuniões em Brasília empresários, sindicatos, políticos, quem mais possa dar ideias ou sugestões para uma saída mais honrosa para o PIB deste ano.
Do lado do governo, de imediato, há duas coisas possíveis de se fazer: baixar os juros e aumentar gastos públicos para estimular a economia. A segunda parece fora de cogitação, já que abrir os cofres pode comprometer a credibilidade do governo brasileiro em tempos de crise internacional aguda.
Então, ficamos todos com a primeira opção, reduzir o custo do dinheiro para incentivar os gastos dos brasileiros, ou seja, baixar mais ainda os juros.
“Os juros futuros (negociados na BM&F), estão caindo uma barbaridade, porque as pessoas já sabem que a reação (do governo) será através de mais estímulo. O mercado dá como 100% certa uma queda da Selic para 8,5% na reunião do Copom de maio. E 60% de chances para mais uma redução de 0,5 ponto em julho. Estamos caminhando para a taxa mínima da mínima histórica”, diz Marcelo Fonseca.
Já tem analista no mercado dizendo que os juros podem chegar a 7% se a economia não reagir até o segundo semestre deste ano. A taxa mínima vivenciada pelo Brasil foi de 8,75% ao ano, entre 2008 e 2009.
O governo querendo crescer mais de um lado; do outro, a atividade econômica fraca, bem fraca, num ambiente externo negativo para o Brasil, com o mundo já está comprando menos produtos daqui. Estão aí a “fome e a vontade de comer”.
O prato mais novo do “banquete” será a mudança nas regras de remuneração da poupança, que devem entrar em prática o mais rápido possível. Esse era um dos obstáculos práticos para que os juros continuassem caindo. Se a poupança tiver um rendimento menos atrativo do que os fundos de investimentos privados, mantém-se um equilíbrio do sistema financeiro e da gestão da dívida pública brasileira.
E a inflação? Por enquanto, virou preocupação secundária, até que tudo que está em gestação agora mude efetivamente. Só assim sabermos quem chegou, e como, lá na frente.


Taís Herédia - G1
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